segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Como ser semente?

Essa semana foi bem difícil.

Me angustiei diante de tantas injustiças que eu vivenciei. 
Às vezes, me pergunto se seria melhor se ignorante e viver sem consciência do estar e do ser nessa terra...

Injustiças permeiam nossas vidas todos os dias, todo momento, sem parar, sem ao menos percebermos...

Como sou professora de uma escola municipal tenho que lidar não somente com a realidade dos alunos , mas com a realidade do próprio sistema educacional. Em sala, me esforço para ensinar a alunos que já não valorizam o conhecimento, não respeitam autoridades e nem mesmo as outras pessoas. 

Famílias desestruturadas, pais egoístas que destratam seus filhos, pais super protetores que encobrem os erros dos filhos e a sua própria derrota em educá-los. Alunos que não respeitam, mas também não são respeitados em sua própria casa. Convivo também com o outro lado, os professores. Alguns se dedicam ao ensino com um coração bem disposto, no entanto, diante de tantos desafios e por parecerem estarem sós nessa luta acabam por sucumbir ao sistema de ingratidão e amargura. 


Por serem desrespeitados e desvalorizados dentro da sala pelos alunos, são também desrespeitados fora da sala quando são obrigados a passarem horas corrigindo tarefas e avaliações para, ao final do ano, serem obrigados pela gestão ou pelas secretarias de educação a passarem crianças e adolescentes para o ano posterior, pela justificativa leviana de não se pode diminuir os índices oficiais da “qualidade de educação”. 
Ao fim, quem não ficaria desmotivado diante de um quadro desses? E estou falando apenas de uma parte, a área da educação pública. Transformam idéias educacionais geniais em arremedos de educação, que é o caso da escola em tempo integral. 

A tendência na educação brasileira é a implementação da chamada escola em tempo integral. Inicialmente um projeto muito relevante implementada por Darcy Ribeiro na Bahia com sua Escola Parque onde as crianças e adolescentes passavam o dia na escola tendo atividades direcionadas, bem planejadas e com pessoal capacitado. 

Realmente era algo inovador que, agora, tem sido transformada em um tempo em que as crianças passam em uma escola sem estrutura básica necessária, sendo entretidos por pessoas da comunidade, monitores sem capacitação, ministrando oficinas sem vínculo ou relação nenhuma com o ensino regular ministrado no contraturno ou vínculo com a necessidade desses adolescentes. 

E assim o discente “passa” realmente o tempo sem produzir, sem refletir e a escola está se tornando um tipo 
de restaurante-albergue, onde a função inicialmente educativa tem sido posta em terceiro plano... No entanto, diante da sociedade, as autoridades posam de grandes benfeitores e protetores da educação dos mais pobres... Eles fingem se importar, os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e o governo finge que investe o dinheiro que se recebe pelo aumento nos índices na educação em Educação.... Sem contar no que acontece em outras áreas: saúde, moradia, emprego, segurança...

E eu fico pensando: como, meu Pai, se posicionar diante dessas injustiças se fico de 6h as 18h do meu dia concentrada no processo de dar aulas? Sem contar no tempo para planejamento e etc. Não sei a que meios recorrer, não tenho influência política, não tenho nem sequer voz...

Fico desesperançosa e sem forças para continuar... Se contar que os mesmos que poderiam ter alguma influência vêm em época de eleição tirar fotos com as fardas novas das crianças... O que época de eleição pode fazer? Fotos e beijinhos para os ignorantes políticos...

Meu coração se angustia quando vejo ao meu redor tanta injustiça... Eu choro e me pergunto onde e qual seria o poder de Deus e do evangelho nisso tudo. Pregamos tanto que o Senhor pode mudar uma nação, a história das pessoas... O senhor mudou minha história, Pai. Queria que todos pudessem... ou melhor, quisessem essa mudança...

Percebo que quem está fazendo e se esforçando pra trazer justiça está em dificuldade para continuar andando, seja financeira, seja de apoio... Lembro do trabalho de amigos numa ONG, um trabalho tão relevante e tão sofrido e mal apoiado e, isto, dentro de uma instituição de pessoas que se dizem do Senhor...

Muitos treinamentos existem de capacitação: meio ambiente, direitos humanos, violência infantil e contra a mulher.... São tantos tipos de capacitações que me pergunto por que ainda há tanto o que se fazer nessa terra... Por que parece que o mal vence e prevalece?
Tanta injustiça, tanta dor, tanto desvalor, tanta violência, tanta ignorância, tanta prisão de mente e de alma... 

Me pergunto: onde está o poder de Deus?

Nesse burburinho de angústia e desesperança, Deus me fez lembrar do tempo em que o mais lindo, puro e perfeito homem estava vivendo no meio de nós e no tipo de impacto que ele causou nessa terra. Não foi impacto esperado pelos homens daquela época, nem mesmo o impacto esperado pelo seu próprio povo.

Lembrei-me de como Jesus veio, viveu e morreu.
Ele, na prática, com suas ações que pareciam simples, mas que iam contra e de encontro ao que era pregado e vivido àquela época. Numa sociedade estabelecida pela violência, injustiça e pelo desrespeito a todos os direitos humanos hoje estabelecidos (até porque naquela época a situação de opressão era bem pior do que hoje), Jesus veio e teve atitudes tão simples e tão marcantes. 
Como homem, ele estava com os que eram rejeitados, os bêbados, os ladrões, ele simplesmente estava lá com eles e pronto. Falou com as mulheres, que não eram nem sequer dignas de se dirigir a ele, sendo ele homem daquela época. Falou, conversou, entrou no mundo oculto de transgressões delas... E permitiu que elas o adorassem... E as crianças? Ah! As crianças... 


Se atualmente crianças continuam sendo “Só crianças, não entendem nada!” quanto mais naquela época!! Venham as crianças! Jesus se aproxima dos quem não tem valor diante dos que se acham dignos de algum valor. Simplesmente valorizou o que não tinha valor. Pergunto-me onde Jesus estaria hoje se ele estivesse em carne entre nós: na crackolândia, debaixo de uma ponte, numa favela, num orfanato, numa rua vermelha...? Onde os que não são estão...

Enfim... O que Jesus fez para revolucionar a história da humanidade? Grandes obras, milagres? Com certeza, mas, sobretudo, deu e trouxe valor em pequenas atitudes e revolucinou a maneira de pensar de uma época consolidada pela força, violência e injustiça... Até porque as pessoas em que ele fez os milagres, já passaram... Os milagres passam... O legado que permanece são os frutos que mudam e libertam o entendimento das piores prisões, as cadeias da mentira e do pecado.

Mas diante de tudo isso, meu coração ainda se abala, pois ainda parece que damos “murros em ponta de faca” quando fazemos o bem, quando tentamos praticar a justiça. Parece que não há retorno e que não há fruto...

Nesse ponto, me recordo que Jesus, o homem -Deus, teve que morrer para que desse muito fruto. E depois que Ele morreu e ressuscitou, o mundo continuou injusto, violento e mais depravado ainda... Enfim o mundo continuou mundo! Mas nosso Deus deixou o exemplo sublime de perseverança, de fé e, sobretudo, de morte. Veio a minha mente aquele versículo que diz: “para dar fruto é necessário que a semente morra, porque se ela não morre, fica ela só, mas se morre, vai dar muito fruto.” Que profundo é essa verdade! 

Quantas vezes me desânimo no fazer o bem por não visualizar os frutos a meu tempo, no entanto, Jesus ensina que semente que dá fruto e semente morta e que eu saiba, morto não tem expectativas de ver nada no mundo dos vivos!! Os frutos são de Deus, cabe a mim, portanto, morrer, obedecer e pagar o preço dado para eu pagar.

Ou seja, não adianta ficar sofrendo... Apesar que sei que sou humana e sei que vou chorar, até porque Jesus chorou ao visualizar Jerusalém e seu povo rebelde e longe do amor de Deus. Mas Ele não desistiu e morreu para dar muito fruto.

Morrer para dar muito fruto, sabendo que é certo que semente morta não vê a árvore e seus frutos. A semente passa. Semente só serve para morrer. Se não morrer, ela não tem utilidade, só serve para queimar e virar pipoca, se for milho! E olha que tem umas tão ruins que não estouram! Brincadeira! 
Mas o princípio desceu de maneira maravilhosa ao meu coração. Tenho que morrer, perseverar em buscar o bem e não esperar ver o fruto. 
Se Deus for misericordioso e permitir que eu veja alguns vislumbres do fruto, serei privilegiada, mas sei que esta não é a regra. A regra é:
“Na verdade, na verdade vos digo que se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica eles só, mas se morrer, dá muito fruto (Jo 12:24)

Com certeza o desafio é difícil, mas não foi fácil nem para o Mestre! Ele suou lágrimas de sangue ao pensar no que ia sofrer, mas não desistiu! Ele fez para que hoje pudéssemos iniciar a caminhada na Vida Eterna. Não podemos desistir! Que o Espírito te fortaleça a não desfalecer na caminhada, por mais dura que seja, afinal, essa história de vida de vitória em Cristo, é vida de vitória superando todos os dias nossos medos, fraquezas e a vontade de viver. Vida de vitória em Cristo é vida de morte! Só em Jesus a morte se torna em vida.

E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. 
Gálatas 6:9
Fica um louvor para finalizar essa meditação: Cruz de Heloísa Rosa

Em 19 de Agosto de 2012.

Por Leilane Evangelista



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